À luz da neurociência, a música se revela capaz de transformar nosso cérebro e seu funcionamento...
quase sempre para melhor.
Pesquisa de Alexandra Pihen
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E isto de tal forma que os músicos constituem a população de estudo privilegiada pelos neurologistas em matéria de plasticidade cerebral.
Em poucas
palavras
Foi a primeira surpresa revelada pelos estudos da neuroimagem sobre os efeitos da música.
Uma simples escuta produz o que os cientistas chamam ‘’sinfonia neural’’: a mobilização de circuitos cerebrais conhecidos por seu papel em outras áreas. A música envolve naturalmente as regiões auditivas, mas também as áreas motoras,
Mas outras evoluções são mais surpreendentes, como uma melhor comunicação entre os dois hemisférios do cérebro.
Segundo recentes estudos, a densidade neural do hipocampo – estrutura cerebral responsável pela memória, a navegação espacial e a inibição do comportamento – está relacionada ao número de anos de prática. Além disso, entre as crianças de 5 a 6 anos, as aulas de música geram efeitos mensuráveis sobre o raciocínio verbal e a memória em curto prazo. As emoções são também envolvidas, através da secreção dos hormônios ligados ao prazer e à motivação que ativa o circuito neural da recompensa. Mesmo um treinamento de curto prazo é suficiente para modelar o cérebro: entre os septuagenários, quatro meses de aprendizagem de piano melhoram o humor e as atividades “executivas” como a atenção e o planejamento.
Os músicos, reis da plasticidade cerebral
A prática musical provoca modificações em todo o cérebro, algumas delas já esperadas, outras menos.
Modificação da massa cinzenta com a produção de novos neurônios e sinapses, modificação da morfologia neuronal, aumento da espessura cortical
Modificação da matéria branca com aumento do número de axônios (fibras nervosas), de sua espessura, de seu diâmetro e de sua densidade de compactação.
Respostas cerebrais mais eficientes e mais amplas
Solicitação dos circuitos da recompensa ligados à memória e às informações perceptivas
Melhor oxigenação do cérebro
O impacto da música
no cérebro dos músicos
Córtex Motor
Treino individual ou coletivo Estímulo das funções de execução: concentração, atenção, controle, planejamento e inibição das informações interferentes
Córtex Pré Frontal
Precisão dos gestos no momento da prática Instrumental
Motricidade fina melhorada
Corpo Caloso
Análise das tonalidades, do tempo, do ritmo Discriminação cada vez mais fina e rápida das informações
Córtex Auditivo
Coordenação das duas mãos
Aumento da comunicação e da coordenação entre os dois hemisférios cerebrais Corpo Caloso
Tocar com ritmo, bater o pé, dançar Reforço do tratamento sensorial das informações, da coordenação motora e da antecipação das açõesdançar
Córtex Somassensorial
Análise estética e emocional da música
Melhor gestão das emoções
Qualidade das emoções preservada com a idade
Maior sensibilidade
Gosto reforçado pelo esforço Fasciculo Arqueado
Aprendizagem de novas informações Aumento das capacidades de memória imediata e a longo prazo.
Hipocampo
Sincronização entre a escuta e o canto
Melhor comunicação entre as áreas auditivas e as áreas de articulação e de produção dos sons Cérebro
Leitura das partituras, observação dos gestos
Melhor estratégia viso-espacial do tratamento da informação Córtex Visual
Gestão da expiração durante o canto ou a prática de instrumentos de sopro
Melhoria da eficiência cerebral no geral Três dimensões do prazer, não exclusivas, podem ser definidas. Também chamada efeito ‘’grande oito’’, a primeira é baseada na experiência sensorial. No momento da emissão das ondas sonoras pelos instrumentos ou por uma música amplificada, onde os baixos estão bem presentes, as vibrações estimulam os receptores sensoriais externos, os da pele, ou internos, como as vísceras. O famoso ‘’frisson musical’’, segunda dimensão, está ligado à satisfação de uma expectativa construída. Longe de ser inato, o prazer é aprendido desde a infância pela experiência e a repetição de eventos musicais: o córtex auditivo analisa os sons e antecipa seu desenvolvimento.
O hipocampo mobiliza, em seguida, os referenciais, que nós temos na memória, para traduzi-los em emoções através dos circuitos cerebrais da recompensa (eles próprios modulados por um transmissor, a dopamina). Quando as expectativas são satisfeitas, ou ao contrário, abaladas por um padrão musical inesperado, o prazer decorrente pode provocar arrepios.
A amusia pode ser explicada por uma anomalia neurogênica congênita que se traduz por uma má transmissão neural entre o córtex auditivo e o giro frontal inferior do hemisfério direito.
No extremo oposto, em aproximadamente 1% de pessoas dotadas de ‘’ouvido absoluto’’ - capazes de reconhecer uma altura de nota sem nenhum referencial – a troca entre estas duas regiões do cérebro é reforçada.
Privado de prazer musical
Por falta de prazer ou de compreensão, alguns indivíduos não têm gosto pela música. E isto pode ser percebido em seus cérebros.
Um gene da música?
Objeto de intensos debates, a questão sobre a existência de uma predisposição à prática musical divide os cientistas: um cérebro predisposto e um cérebro treinado são, na verdade, idênticos.